Leituras 1: Pensamentos de Zerka Moreno
Antonio Ferrara e Judith Berenstein
Quando Zerka Moreno esteve no Brasil, em 1993, foi entrevistada por dois psicodramatistas, a pedido da Associação Palas Athena, que pretendia apresentar o pensamento de Zerka numa de suas publicações.
Os entrevistadores foram Antonio Ferrara, docente da Escola de psicodrama de Tietê e da Associação brasileira de psicodrama e sociodrama e Judith Berenstein, também professora desta última entidade.
Foi um longo papo, sobre vários assuntos, dos quais extraímos alguns trechos, devidamente autorizados pela detentora do “copyright”, à qual agradecemos a gentileza.
A universalidade de Psicodrama
O psicodrama tem rodado o Inundo. Temos atualmente equipes que vão regularmente para a Rússia, Hungria e Bulgária e estão trabalhando com psicodrama em países do Leste europeu. Recentemente, um de meus alunos, que agora está na Suécia, mas que é originário da Estônia, foi trabalhar neste país. É realmente fascinante.
Existe um grupo muito grande na Austrália e Nova Zelândia. O pessoal é bastante ativo. O Japão é ativo. A primeira vez que estive no Japão foi no início dos anos oitenta; havia pessoas tentando fazer psicodrama mesmo antes disso mas não o faziam muito bem porque estavam tendo muita dificuldade para entender o Inglês.
A pessoa que pensou que estava levando o psicodrama para o Japão não entendia Inglês o suficiente para saber que não estava fazendo psicodrama. Quando eu lhes mostrei o que era psicodrama, elas tiveram um “choque Zerka” e até hoje ainda falam sobre ele. E elas estão indo muito bem, estão crescendo e eu estou muito satisfeita.
Eu acho que precisamos ir para a China, o próximo lugar a ser aberto. Mas existe um pessoal dos Estados Unidos trabalhando em Taiwan. Há alguns anos atrás a Universidade de Taiwan me convidou, mas eu disse que só iria com passagem de primeira classe e eles não conseguiram isso. Eu tenho que ter meu conforto ao viajar, mas outras pessoas estão indo para Taiwan.
Praticamente todo país da Europa tem psicodrama.
Mas eu devo dizer que provavelmente a maior concentração de psicodramatistas está aqui no Brasil. Infelizmente eles não se dão muito bem entre si. Isto é desastroso, pois perdem tanto tempo tentando provar quem é melhor em psicodrama que não lhes sobra muita energia para fazer bom psicodrama.
Entidades Psicodramáticas
Moreno criou duas sociedades. A primeira foi a “American society of group psychotherapy and psychodrama”, em 1942. Depois, em 1951, nós dois fomos para Londres e Paris e fundamos o “International cornmittee of group therapy” que posteriormente tornou-se o “International council” e é agora a “International association of group psychotherapy”, que já realizou 12 congressos. (OBS• O próximo congresso da IAGP será em Buenos Aires, em agosto de 1995).
A International association of group psychotherapy não é tão internacional nem tão abrangente como gostaríamos que fosse.
Não sei se teremos uma ONU do psicodrama, mas algo como isto é o necessário, eu acho.
As mudanças no mundo e as mudanças no psicodrama
Não acho que a questão seja as mudanças no mundo: a questão é o mundo precisar de nós. O mundo precisa de nós. Por isso, devemos continuar a lutar e a trabalhar, pois somos extremamente necessários. O mundo está ficando pior, está mais violento. Ao invés de uma grande guerra mundial, temos agora pequenas guerras que, intensificadas, podem-se tornar guerras mundiais.
Existem muitas aplicações novas do psicodrama, para as quais Moreno estabeleceu os fundamentos e as orientações, para que outras pessoas dessem continuidade. Isto está ocorrendo cada vez mais.
O psicodrama começou em um ambiente fechado, um hospital. Não temos mais estes ambientes nos Estados Unidos. Não temos mais pacientes que vão a um hospital e lá ficam cinco ou seis meses; eles vão por 30 dias e ainda têm sorte, que o seguro paga por eles.
Não é somente o sistema de saúde mental que está ruindo. Nosso sistema de saúde está falindo, em todos os lugares. Portanto, a adaptação que o psicodrama está fazendo consiste em trabalhar com terapeutas reciclados, que fazem terapia reciclada, algumas sessões, no estilo de ambulatório, e não mais de forma institucionalizada. Esta é uma grande mudança.
Os sonhos de Moreno
Quando me uni a Moreno, nos anos quarenta, tínhamos grandes sonhos e alguns deles foram realizados, outros não. Moreno não estava insatisfeito com o que havia conseguido em sua vida, mas eu acho que naquele tempo ele já se conformara com aquilo que não havia realizado. Acredito que no fundo de seu coração ele almejava duas coisas: uma nova religião e uma sociometria, para revolucionar o modo como convivemos, para mudar o mundo.
Ele achava que a sociometria faria isso. Mas ela não é muito usada, nem mesmo tanto quanto o foi nos anos 30, 40 e 50, nem mesmo nos Estados Unidos. Temos ainda muita luta pela frente.
Moreno anarquista
Moreno era considerado um anarquista. Talvez ele o fosse. Ele queria mudar as coisas e os revolucionários lutam com dificuldade. Mas tivemos sucesso.
Vejam o que aconteceu na Rússia : uma tremenda revolução, enorme perda de vidas, grandes dificuldades, grande sofrimento… não durou. E Moreno previu, em 1966, que não duraria. Ele falou sobre isto na Universidade de Denver, no Colorado, e eu tenho toda a gravação. Foi tudo gravado. Em 1966, ele previu a queda do sistema soviético, muito antes que qualquer guris político o soubesse. Na verdade, ninguém realmente acreditou que aconteceria tão rapidamente. Mas ele realmente queria mudar o mundo, queria melhorar nosso cotidiano, queria nos dar a esperança de que podemos criar um mundo melhor para nós mesmos e para nossos filhos. Isto é o que ele desejava. O psicodrama faz isto de uma certa forma. Ele melhora de fato o mundo, nossa vida e o maneira como vivemos nossa vida. Mas não é suficiente. Eu sei que em algum nível ele estava desiludido.
O que é realidade
Realidade é o que eu posso ver e sentir e experienciar; e além disso, realidade são meus sonhos. Não apenas meus sonhos noturnos, meus sonhos sobre minha vida. O que eu quero fazer. Esta é a
minha realidade. Não apenas o que você pode sentir e tocar fisicamente. Isto é apenas uma pequena parte do que somos. Nossa mente se amplia para enormes dimensões. Isto é realidade. O que eu quero agora, o que lhe disse sobre os sonhos que tenho… as coisas… Se eu fosse mais jovem, eu lutaria para que cada uma dessas coisas se consolidasse.
Os sonhos é que inspiram as pessoas a fazerem grandes coisas, maiores do que elas sabiam que poderiam fazer sem eles. Porisso temos que parar de olhar para as limitações das pessoas.
Moreno era maravilhoso com os jovens porque ele os observava e os via com aquilo que eles se iriam tomar. Este era seu grande dom. E isto é o que muita gente não percebe. Que somos pessoas com um potencial, que é invisível, mas real.
Sobre a megalomania de Moreno
Moreno falou sobre a megalomania normal. As crianças têm megalomania normal, em parte porque elas sabem sonhar e também porque sabem que vão se tornar maiores. Eu tenho um sobrinho que com oito anos sabia que iria ser médico. Hoje ele é médico. Tenho um aluno que com 4 anos sabia que iria ser um engenheiro. É o que ele se tornou. Eles não estavam biologicamente preparados para serem engenheiro ou médico mas, psicologicamente, estavam se preparando. Se um pai pode se preparar psicologicamente para a paternidade, ótimo. Isto é o que estamos tentando fazer. Portanto, é muito importante que ajudemos as pessoas a acreditar em seu potencial.
Espontaneidade e inteligência
A idéia de Moreno sobre o ser humano é que não há cultura que respeite a espontaneidade e a criatividade da mesma forma que respeita a inteligência. Rendemos muita homenagem à inteligência. Oh, ele é tão brilhante, tão esperto! Ela é tão talentosa, tão inteligente! Pessoas muito inteligentes não são necessariamente pessoas emocionalmente bem integradas. Essas duas coisas não caminham juntas. Existem pessoas muito integradas emocionalmente, que não são brilhantes. São apenas pessoas comuns do dia a dia. Elas sabem como viver.
Moreno pensava que o que não é normalmente compreendido, isto que é tão forte na espontaneidade dos estudantes, reduz-se à medida que envelhecemos e nos tornamos cada vez mais mecanizados. Nós nos repetimos, perdemos nossa espontaneidade, tornamo-nos o que ele chamava de “conservas”. Ele disse que
mesmo o corpo humano é uma “conserva biológica”. Ou seja, todos têm corpos semelhantes. Existem diferenças individuais, mas, basicamente, o corpo é o mesmo, você sabe como ele é estruturado, como o corpo de qualquer pessoa. Não existem seres humanos com três pernas ou cinco cabeças. O modelo já está construído na forma acabada.
O problema com a nossa cultura é que damos mais valor à forma acabada do que ao processo. Nós respeitamos o produto final da criatividade: bela música, bela pintura, belos edifícios. Sabemos muito pouco sobre como tomar as pessoas criativas. Não necessariamente inventivas, mas criativas.
Homem e mulher
É preciso fazer com que o homem se sinta mais importante e não diminuído pela liberação feminina. O problema com os homens deve ser posto em termos de desenvolvimento mental. A pessoa que está mais próxima dele quando ele é pequeno, é do sexo feminino. Urna pessoa do sexo oposto. Não é o caso da fêmea, a garota. Ela tem um modelo direto de como ser. O filho homem tem que “passar” por outra mãe (em relação ao pai) para ter um modelo de como ser um homem. Mas a mãe está no meio deles. Num certo grau, Freud estava certo. O problema edipiano não significa sempre que você quer ir para cama com sua mãe, mas que ela está lá emocionalmente e o pai não. Acho que precisamos sensibilizar mais os homens para seus sentimentos. Eles precisam se aproximar mais de seus sentimentos. Treinamos os meninos para não chorar. Por que? Por que eles não devem chorar? Esse é o seu sentimento? Temos que respeitar os sentimentos dos meninos tanto quanto respeitamos os sentimentos das meninas. Os homens são tão capazes de ter sentimentos quanto as mulheres. Mas não lhes tem sido permitido expressá-los e crescer com eles e por isso têm que batalhar muito ao crescer, para se tornarem pessoas sensíveis. Mas isso está dentro deles. Isso foi reprimido. O objetivo do psicodrama é levá-los de volta ao seu estado inicial inocente, quando eles eram apenas garotinhos, precisando de amor, atenção e respeito.
Estamos bem mais conscientes, nos Estados Unidos, sobre a maneira como usamos nossa linguagem profissionalmente. Nâo dizemos mais “chairman” (o presidente, o diretor, o dirigente), dizemos “chairperson” (a pessoa que preside). É uma pessoa que preside, não um presidente. Não é um homem!
A partir do movimento de liberação feminina, houve grandes modificações. Mesmo nossa linguagem do cotidiano está mudando. Se você escrever um artigo científico e estiver generalizando, terá que dizer ele/ela. Ou você diz o ser humano, ou sei lá, mas toma tudo abrangente. Porque pelo menos nos Estados Unidos, as mulheres se ressentem de serem excluídas, até mesmo na linguagem. Eu acho que isto é muito ameaçador para muitos homens que não estão muito seguros de sua masculinidade, mas é um fato crescente. As mulheres estão aprendendo a assumir seu próprio lugar no inundo, independentemente dos homens.
Sobre autoridade
Eu acho que o termo, o conceito de autoridade, é frequentemente mal entendido. Pode-se ser autoridade em alguma coisa sem diminuir outras pessoas. Mas a forma como usamos nossa autoridade é para provar o quanto somos superiores e como todas as outras pessoas estão por baixo.
Não acho que este seja um uso correto do conceito de autoridade. Tenho segurança suficiente para saber que posso estar errada. Isto não diminui a minha autoridade de maneira nenhuma. Tenho uma certa experiência profissional e me sinto bem com isso. Este é o meu sentido de autoridade.
Mas mesmo essa autoridade é limitada. Quanto mais velha eu me tomo, mais eu percebo quão pouco eu sei. Basicamente eu sou muito ignorante. Eu não sei o suficiente sobre o céu, as estrelas, as constelações. Eu fico maravilhada com os buracos negros e as imensas coisas que eles estão descobrindo. A nova física, sem dúvida me desafia, mas não acho que a entenderei. A tecnologia, estes novos equipamentos maravilhosos! Então, o que é minha autoridade? Minha autoridade é limitada, estritamente limitada ao assunto que eu conheço. Este é o meu conceito de autoridade. Eu não sou uma autoridade generalizada. Sou uma autoridade muito especializada em um certo campo. E é até aí que a minha autoridade se estende.
Agora, eu tenho de fato alguma autoridade em relação aos meus filhos, quando sou mãe. Eu tenho que assumir a responsabilidade e tenho que expressar minha autoridade. Lembro-me quando Jon tinha cerca de sete anos de idade e não queria ir para a cama porque estava vendo um programa de TV. Eu disse: Você precisa dormir um pouco esta noite (ele não dormia muito, mas de qualquer forma…), já são 11 horas da noite e Você é muito jovem para ficar acordado até tão tarde. Ele não desligou a TV e eu perguntei: a quem você está ouvindo se você não ouve sua mãe e seu pai? Ele disse: a televisão. Você vê como sua autoridade pode ser minada pela tecnologia?
Nós temos autoridades que se excedem. Com isso eu quero dizer que temos pessoas que tomam o poder para si mesmas acima e além do que sua posição lhes permite. Elas abusam de sua autoridade e, então, para elas a autoridade toma-se poder. Para mim, autoridade toma-se um certo tipo de sabedoria e conhecimento, é saber quando não usá-la. Não quando usá-la, pois isto é natural, mas quando não usá-la. Como não usá-la, este é o segredo.
O que eu gostaria de ver acontecendo
Número um: já mencionei a idéia da instituição pré-matrimonial, para testar jovens casais antes do casamento para ver se eles realmente desejam dar esse passo juntos ou não. Quero ver clínicas de teste pré-matrimonial em cada comunidade.
Escola para pais. Ao engravidar, a mulher viria e, junto com seu marido, ou o pai da criança, seja lá o que for, amboas aprenderiam como serem bons pais. Ao mesmo tempo, trabalhariam seus próprios problemas emocionais de modo a não imporem sua patologia aos filhos.
Eu quero ver o psicodrama em cada escola. Nós temos aí grandes problemas: os professores entre si, os professores e o diretor, o diretor e os pais, os professores e os pais, as crianças e os professores, as crianças entre elas mesmas. Precisamos de uma equipe de psicodrama, um local onde eles possam ir e trabalhar à medida que os problemas ocorrerem.
Temos atendimento de emergência em hospitais, para pessoas acidentadas ou feridas. Precisamos ter um local de emergência; 24 horas por dia, onde as pessoas possam ir. Por exemplo, tiveram uma briga terrível; ao invés de matar sua mulher e filhos, que o marido venha e trabalhe isso no psicodrama. Salvam-se vidas desta forma. Seria uma sala de psicodrama de emergência, onde eles poderiam matar psicodramaticamente e descobrir como é que se sentem. Inversão de papel. Aprender representando, ao invés de fazer isso na vida. Encontrar um local seguro para extravasarem suas emoções e se desenvolverem, para crescerem, para entenderem o que estão fazendo na vida.
Eu quero ver o psicodrama no governo, pois temos um comportamento errôneo terrível nas pessoas do governo. Elas abusam de seu poder, roubam dinheiro de nós, dinheiro que pertence ao povo e que deveria ir para o tratamento da saúde, para a educação, para a moradia… eles o roubam de nós estes malditos pilantras!
Estas são as coisas com a quais me preocupo. Dentro de casa e fora de casa. Temos boas ferramentas com as quais podemos fazer muito. Moreno pensava que poderia treinar um exército de sociólogos e psicodramatistas que sairiam pelo mundo para ajudar. Um exército, esta era sua idéia.
E digo mais, ele fazia isso, ele mesmo. Lembro-me de um exemplo clássico de como pensávamos sobre o mundo e como agíamos. Estávamos caminhando pela cidade de Nova York em um local chamado Columbus Circle, perto do Central Park quando ele viu um policial discutindo violentamente com um negro, uma discussão violenta, não fisicamente violenta, mas com palavras. Moreno não sabia de nada que estava acontecendo, mas foi direto até o policial e disse: ” Meu nome é Moreno, sou um psiquiatra. Posso ajudá-lo?” O policial começou a explicar-lhe qual era o problema. Depois ele se virou para o negro e perguntou-lhe qual era o problema e em cinco minutos estava tudo resolvido. O negro pode ir para casa. Precisamos mais disso. No momento. Ele era um filósofo do momento. Via o momento e tomava-o vivo. Se quisermos falar em termos de filosofia, esta era a sua filosofia.
Numa véspera de Natal, nós fomos a uma loja em Nova York. A filha dele iria a uma festa e queria um vestido novo. Ele disse. “Vamos, então; de Beacon nós podemos parar em Nova York e jantar; é véspera de Natal e podemos nos divertir”. Fomos até a loja Bloomingdales, uma loja maravilhosa! Ele tinha cabelos grisalhos e olhos muito azuis, era uma figura imponente. Uma senhora veio correndo em sua direção. Ele estava com seu casaco no braço, porque era dezembro mas estava quente. Com seu casaco de inverno no braço… e não usava chapéu naquela época. Então a senhora veio correndo até ele e disse: “O senhor deve ser o gerente deste departamento de móveis. Estou tendo um problema sério com a entrega de meus móveis. Eu os comprei e eles não os entregam.” Moreno entrou no papel e disse: “Bem, acontece que esse não é meu departamento, mas deixe-me encontrar o gerente para a senhora”. E foi procurar o gerente. Este é o tipo de coisa que ele fazia. Ele aceitava o papel.
Uma vez, no aeroporto de Zurique, duas garotas vieram correndo até ele e disseram em alemão (ele falava alemão): Ah, nós vimos o senhor naquele filme, The Green Medal. O sr. estava maravilhoso. “Fico contente que vocês gostaram”, disse Moreno. Eu disfarcei imediatamente dizendo
que nosso avião estava chegando, pois temia que elas lhe fossem pedir autógrafo. Elas acharam que ele era um ator, que o tinham visto em um filme, e ele imediatamente disse que sim.Você sabe: ele entrava no papel. Era uma figura divertida.
Escola para pais
Há uma enorme violência nos Estados Unidos, em nosso país. Não sei como é aqui. Mas é uma violência familiar. As crianças apanham, são maltratadas, exploradas sexualmente… quer dizer, o que está acontecendo é muito triste. Agora, muitos destes pais e mães precisam se ajudar e necessitam de terapia para eles mesmos, antes de poderem ser mães e pais. Caso você vá examinar pessoas (quando elas estão esperando um filho) para ver se estão prontas para serem pais e mães, poderá descobrir o que há de errado com elas e ajudá-las antes de a criança nascer, de modo que existam pais e mães melhores. Não tínhamos modelos para isso. Nos velhos tempos nós tínhamos tradições e as pessoas podiam seguí-las. Hoje não temos mais tradições de paternidade. Isto está completamente mudado.
No meu tempo, se uma criança chamava urna mãe pelo seu primeiro nome, isto era considerado muito ruim. Veja o número de crianças que hoje chamam seus pais e mães pelo primeiro nome. Eles os chamam de mamãe e papai, e quando têm nove anos passam a chamá-los pelo primeiro nome. É uma grande mudança. Eles estão estabelecendo um relacionamento de igualdade com um pai que talvez não queira isso.
Ou não podem ainda assumir a responsabilidade. Não, não, é um problema muito sério. Não temos treinamento para amantes, como ser amantes, não temos treinamento de como ser maridos; temos que tentar tudo a partir deles mesmos e ao mesmo tempo temos modelos pobres. Quando me lembro de minha mãe e meu pai… eu não poderia viver do modo que minha mãe e meu pai viviam seu casamento; não é meu modelo. Portanto, não temos modelos. Temos que criar nossos próprios modelos mas nem sempre somos capazes de fazer isso. Precisamos de ajuda e temos táticas que realmente ensinam às pessoas como fazer isto.
Estar biologicamente preparado não significa estar emocionalmente preparado. São duas coisas inteiramente diferentes. Alguns garotos e algumas meninas estão biologicamente preparados para ter filhos quando têm 9-10 anos de idade. Elas estão prontas para serem mães? Claro que não. Isto é um absurdo! Nós estamos biologicamente preparados para um monte de coisas. Em princípio. Mas para assumir o papel maduro? Isto precisa ser assumido e leva tempo. Isto implica em desenvolvimento emocional e existem muitas pessoas que não devem ser pais. Elas estão biologicamente preparadas, mas não devem ser pais, pois não sabem como. Elas maltratam seus filhos, não sabem como lidar com eles. Então, meu Deus, biologicamente nós fazemos todos os tipos de coisas, mas isso não significa necessariamente que as fazemos bem. Existem mulheres que ficam grávidas e não sabem que diabo estão fazendo!. Não é um argumento, estar biologicamente preparado. Isto não significa nada. Basta examinar os problemas psiquiátricos. Muitas mulheres tomam-se psicóticas após terem um bebê. Quem tomará conta deles? Elas estão biologicamente preparadas, mas emocionalmente elas estão ausentes!
Além disso, se se pensar a respeito do problema da Aids, estes meninos estão biologicamente prontos
para praticar sexo. Eles são informados, avisados sobre a Aids? O maior número de pessoas que hoje estão se contaminando com o HIV é constituído de adolescentes e adultos jovens. Não são os homosexuais; e mesmo.
Presente de aniversário
Eu gostaria de realizar o “Psicodrama dos sete mares”. Gostaria de ter um navio onde faríamos psicodrama, no teatro a bordo, 24 horas por dia, corno fizemos no primeiro congresso de psicodrama em Paris, em 1964, onde havia uma sessão de psicodrama a cada duas horas, cada vez com um novo diretor, um novo grupo. Pararíamos em cada porto, em cada país onde estivesse sendo feito psicodrama e o traríamos para o navio.
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Leiuras 1 – Pensamentos de Zerka Moreno
Tiragem desta edição (maio de 1994): 300 exemplares
Coordenação Geral: Moysés Aguiar / Luzia Moreira / Antonio Ferrara
Uma reedição para o computador de Leituras da Companhia do Teatro Espontâneo.