Leituras 13 – O papel e a identidade do psicodrama moderno

Ferdinand Buer


É comum observar-se que as pessoas com formação psicanalítica costumam apresentar-se simplesmente como psicanalistas.

Sua identidade profissional enquanto médicos, psicólogos, psicoterapeutas, tende a perder importância e nem mais é mencionada.

Parece que esse título é tao fundamental para a identidade de seu portador que tudo o mais é considerado insignificante.

É um título tão desejado que, como se sabe, até mesmo psicólogos costumam auto-denominar-se psicanalistas.

Não pretendemos analiar neste trabalho por que isso ocorre, mesmo considerando a independência pretendida por Freud e seus seguidores.

Interessa-nos muito mais discutir por que a designação “psicodramatista” 1 não encontrou reconhecimento social e o que esse fato significa para nós.

Para analisarmos essa questão, devemos verificar, antes de mais nada, nosso próprio entendimento do que seja psicodrama.

O psicodrama pode ser entendido como um conjunto de técnica úteis que poderiam ser integradas no âmbito científico, como prática já reconhecida.

Essa posição é representada, na Alemanha, por Andreas Ploeger (1983) e sua escola; na Áustria, por Klaus Ottomeyer (1987); na França, pelos representantes do psicodrama psicanalítico.

Mas as técnicas psicodramáticas também são utilizadas por outras vertentes terapêuticas tais como a dinâmica de grupo, a consultoria organizacional etc..

Já um pouco mais exigente é a concepção do psicodrama como uma metodologia independente, útil para determinados campos de trabalho, que não teria validade em si mesma, sem dúvida, mas através de ciências reconhecidas.

Nessa perspectiva, a psicologia desempenha um papel de destaque na fundamentação científica do psicodrama como praxiologia, como disciplina da ação.

Como representantes dessa opinião, desejo mencionar Meinolf Schoenke (1987; 1991), Karoline Hochreiter (1981), Marianne Schneider-Dueker (1991) e Manfred Sader (1991).

O psicodrama aparece, nesse caso, como método da psicologia clínica ou da psicoterapia, ou então como método de pesquisa em psicologia social.

Além disso, existem esforços no sentido de integrar o psicodrama na sociologia ou na pedagogia e tornar assim mais fértil a pesquisa sociológica (Juegst & Mader, 1991), integrá-lo como processo didático (Koesel), de supervisão (Buer, 1988; 1989a; 1990), de consultoria ou de ensino do jogo e do teatro (Buer, 1991c).

Grete Leutz (1974; 1979; 1985), bem na tradição de Moreno, contrapõe-se a essa idéia quando identifica o psicodrama como parte do sistema triádico de psicoterapia de grupo, sociometria e psicodrama.

O psicodrama, conceituado num plano superior, seria um processo autônomo de diagnóstico, terapia e investigação teórica das relações interpessoais.

Mas essa autora conseguiu, pela primeira vez, fundamentar essa posição em princípios, ao nível da atual discussão filosófica ou teórico-científica.

Nessa mesma linha, Hilarion Petzold avançou bastante em seus trabalhos “Apresentações do psicodrama” (1978; 1979; 1987).

Mas seus esforços foram dificultados pela adoção de uma metaposição que visa a integrar diversos processos.

Eu mesmo procuro, atualmente, considerar o psicodrama como um princípio científico autônomo para a investigação, transformação e reflexão teórica da praxis de vida humana, uma tentativa que ainda não está finalizada e que necessita de múltiplas colaborações.

Diante desse cenário, verifica-se que a designação “psicodramatista” sòmente poderia tornar-se convincente quando o psicodrama pudesse firmar-se como processo independente, talvez mesmo como ciência autônoma.

Considerá-lo apenas como técnica ou como metodologia não é suficiente.

O que a psicanálise conseguiu foi exatamente promover-se como processo científico autônomo (por ex. Habermas, 1969; Lorenzer, 1974; Pohlen & Bautz-Holzer, 1991).

O papel e a identidade dos psicodramatistas dependem, portanto, essencialmente, do entendimento que eles próprios têm de si mesmos, o qual deve ser explicitado de forma coerente e consciente.

Mas mesmo que surgisse essa auto-consciência, isso infelizmente ainda não bastaria, pois a aceitação de um papel socialmente relevante e a formação de uma identidade claramente expressa são condicionadas pelo contexto social, caracterizado hoje, pura e simplesmente, por uma crise na prestação de serviços pessoais, nas ciências, e até mesmo na identidade pessoal.

Assim, desejo inicialmente apresentar um esboço dessa crise e das inseguranças a ela relacionadas, para depois apresentar seus reflexos na vida e obra de Moreno e examinar a pergunta a partir da perspectiva que ela nos abre.

Minha tese inicial é a seguinte: ao captar e assimilar de forma muito sensível as diversas crises de sua época (por volta da virada do século) e projetar uma perspectiva para o período atual (que é tão semelhante àquele), Moreno colocou os psicodramatistas em posição vantajosa.

Precisamos apenas ver e utilizar de forma conseqüente essa oportunidade.

Inseguranças

O psicodrama, como método de ação, é empregado sobretudo no âmbito dos serviços pessoais, nas áreas de saúde, treinamento e intervenção social.

Ele não é mais do que uma forma específica de trabalhar as relações.

Mas o trabalho com relações diferencia-se de outras atividades por duas particularidades.

Em primeiro lugar, ele não pode ser feito com a mera utilização de uma capacidade de trabalho, separada da pessoa do trabalhador .

O trabalhador deve entregar-se por inteiro, inclusive em seus aspectos privados, caso contrário, sua relação com os clientes poderia ser vivenciada de forma distanciada e, por isso, ser recusada.

Ela só pode funcionar quando o cliente confia no prestador do serviço e ao mesmo tempo consome o serviço com sua produção.

Este princípio uno-actu de serviços pessoais exige uma entrega do proponente e, freqüentemente, exige também o emprego de suas habilidades pessoais ligadas ao cotidiano.

Diante desse cenário, a profissionalização e a formação de uma identidade profissional clara só são estruturalmente possíveis dentro de certos limites.

Uma vez que muitas das atividades dos que trabalham com relações são atividades que todo burguês normal também domina, como “falar com alguém, cuidar dele, esclarecer-lhe algo”, elas podem ser facilmente encaradas como irrelevantes, para fins de remuneração.

Em conseqüência disso, muitas dessas atividades – pelo menos de vez em quando – são utilizadas também por leigos, por voluntários , por grupos de auto-ajuda.

Os professores alcançaram uma delimitação entre o profissionalismo e a laicidade através de seu status como funcionários públicos, em um espaço claramente definido: o da escola; os médicos, através da monopolização de sua competência especializada, da constituição de seu território, da clínica e da prática (Freidson, 1979).

Os psicodramatistas – pelo menos a maioria – procuram ir no mesmo caminho dos médicos, ao que estes agradecem com distanciamento.

Mas os psicólogos, pedagogos, sociólogos, flutuam pelos sistemas de saúde, educação e intervenção e social e ainda estão em busca de sua identidade profissional (0lk, 1986; Mueller, 1991).

O trabalho com as relações situa-se , portanto, no limite entre a profissionalidade e a laicidade.

Além disso verificou-se, ainda nos últimos anos, que o trabalho com as relações é parecido, em muitos aspectos, com trabalhos de apoio que as mulheres realizam constantemente, no seu dia- a-dia, em todas as relações possíveis (Nestman & Schmerl).

Mas esse trabalho (considerado como indispensável em nossa sociedade, ou por muitos homens, e ao mesmo tempo não digno de remuneração) é socialmente mal valorizado.

Por um lado, o psicodrama como psicoterapia, consultoria, pedagogia, é uma atividade tipicamente feminina: nesse caso a mulher cuida da prosperidade de todos os participantes, preocupa-se com o destino do protagonista, finaliza os negócios não resolvidos, limpa a sujeira psíquica, em suma, ajuda onde e como pode.

O homem também exerce essa atividade, uma vez que ela também lhe é interessante: ele organiza os cenários, controla os processos, planeja e avalia resultados, desenvolve a teoria.

Essa polaridade de sexos aqui tipificada passa também por todo psicodramatista: como é que ele integra os aspectos femininos, socialmente menos valorizados? ; como é que ela integra os masculinos, socialmente mais valorizados?

Homem e mulher percebem que o psicodrama, enquanto trabalho com as relações, psicoterapêutico, consultivo ou pedagógico, está na fronteira entre perfis de atividade tipicamente femininos e tipicamente masculinos.

Mas também a formação científica desses grupos profissionais tornou-se diferenciada.

A psicologia parece mais homogênea, embora ela também tenha se dividido em correntes as mais diversas (por ex., Juetteman et. al. 1991).

É verdade que a psicologia e a sociologia também penetraram na medicina, mas as ciências naturais ainda têm lá a sua importância.

A pedagogia compõe-se de metade psicologia e metade sociologia.

O trabalho social abrange um leque ainda maior.

Os estudiosos têm cada vez mais dificuldades em estabelecer uma identidade científica coerente, a partir desse conglomerado de diferentes disciplinas e orientações teóricas.

Enquanto isso, na Áustria , a psicoterapia é reconhecida como profissão autônoma mas na Alemanha muita coisa ainda está em aberto.

Em todo caso, em nenhum lugar existe uma disciplina universitária de psicoterapia, autônoma, que pudesse ser estudada em seus fundamentos.

Mas, a essas dificuldádes de interligação de diferentes disciplinas e princípios científicos, somam-se outras ainda maiores, quando se leva a sério a atual discussão pós-moderna.

Difunde-se, cada vez mais, uma re-ligação da ciência com idéias macro tais como a da emancipação, do reconhecimento, do progresso, e isso se dilui através de uma pluralidade de diferentes teorias, que estão próximas e não podem mais se comunicar.

Além disso, renuncia-se ao vínculo unilateral, à racionalidade; e a ambigüidade, que tem função na religião e na arte, torna-se uma máxima.

Portanto, a identidade das disciplinas científicas está nitidamente restringida.

De nada adianta o fato de que muitos cientistas não querem perceber essa crise de identidade.

O meio está contaminado e irá infectar também seus participantes.

A identidade do psicodrama não pode ser alcançada , portanto, simplesmente através do orientar-se para a ciência, pois uma ciência homogênea tem hoje o sabor de ficção.

As ciências estão atualmente divididas em disciplinas e princípios que mal se combinam entre si.

Em meio à crise de identidade das ciências sociais e psíquicas, assim como das profissões por elas legitimadas, apresenta-se uma crise ainda maior, a crise da identidade do indivíduo burguês em geral.

Já Adorno e Horkheimer, como também – de outra forma – Michel Foucault, tinham-se referido ao caráter obrigatório do modelo burguês de individualidàde.

Heiner Keupp mostra então, num pequeno artigo relativo à atual “Busca da identidade perdida”(1989), que na pesquisa epidemiológica tanto da rede como da juventude2 não se parte mais de uma identidade pessoal cristalizada, conforme formulada por Erik Erikson (1972) em seu conceito amplamente aceito de “identidade e ciclo de vida”.

Ao contrário, a situação social atual é identificada pelo fato de que os modelos tradicionais de papel, que deveriam ser simplesmente adotados, estão sendo diluídos, o que enormiza a tarefa de integrar constantemente novos papéis (Beck, 1986). Keupp propõe considerar a identidade atual como “identidade colcha de retalhos”.

O conceito clássico de identidade corresponde ao padrão usual de uma colcha de retalhos, no qual se criam figuras geométricas que se repetem uniformemente, obtendo uma unidade harmoniosamente estruturada, baseada no equilíbrio de formas e cores.

A colcha de retalhos, porém, vive da interligação de formas e cores, surpreendente e muitas vezes selvagem, raramente vinculada a símbolos e objetos conhecidos.

É exatamente no projeto e execução de tal tapete de remendos que se pode expressar um potencial criador impressionante. (…)

Nada temos a ver com “destruição” ou “perda do centro”, mas sim com a obtenção de possibilidades criativas de vida, pois a coerência interna de modo algum se perde na identidade colcha de retalhos (…)

Coerência sem coação de identidade é um processo criativo de auto-organização.” (Keupp, 1989).

O que significa isso para nossa pergunta quanto ao papel e à identidade do psicodramatista, atualmente?

E sobretudo, o que Morei» tem a dizer a respeito disso?

Ele considerava o ser humano como um jogador de papéis.

Como primeira abordagem para a compreensão dessa idéia quero contar duas histórias.

Histórias de jogadores de papéis

A primeira é de um escritor muito conhecido e a outra é de um renomado pianista, ou seja, dois seres humanos criativos.

O escritor mencionado trabalha sistematicamente com a técnica de inversão de papéis. 3

Para escrever a respeito de uma determinada área social, ele mergulha no papel de alguém que nela atua.

Diz ele a respeito disso:

O preparo de um novo papel dura normalmente de meio ano a um ano e meio.

O mergulho na nova identidade é doloroso e liberador como um novo nascimento.

Se o nascimento for atrasado, pode ser que de hoje para amanhã eu jogue tudo fora e deixe tudo para trás.

Numa situação dessa, talvez saia um outro como um louco homicida.

É como uma embriaguês.

Isto é então um entrar em si, reaprender a ver como uma criança (…)

Na transformação, na metamorfose clássica, emprego a máscara somente no primeiro plano para me disfarçar, me esconder – na realidade para me encontrar, para soltar o que está cravado em mim.

Aqui eu posso me apropriar do mundo como uma criança“.

Para ele, o entrar no papel 4 não é somente a sua forma de pesquisa, pois é também o único caminho para instituir sua própria identidade, para encontrar-se a si mesmo.

Continua ele:

“O mergulho no papel é sobretudo minha única possibilidade de viver, de me sentir intensamente, de me interiorizar.

Então, eu me coloco freqüentemente ao lado de mim mesmo e penso: isto é realmente necessário?

Não será um exercício obrigatório e cruel reencontrar-se em um papel que te deprime e te prepara?

Não se pode fundamentar isso racionalmente.

Vem das vísceras, no sentido budista.

Tem a ver com meditação, com o sentimento e também com o jogo.

Um efeito secundário é que, através desse confronto existencial, economiza-se psicoterapia.

O que é ser “saudável” em uma sociedade tão doente: (…) o “eu” é uma passagem por muitos outros e muitas outras; reconheci isso muito tarde, como conseqüência de meu próprio dilema e, a partir de meu isolamento e fraqueza originais, tentei conduzir o meu método de trabalho.

Sua parte mais importante e criativa não se realiza na escrivaninha.

Minha fantasia e criatividade consumam-se no local, dentro do respectivo papel.

Lá eu sou às vêzes o diretor e o ator em uma só pessoa.

O escritor é Günter Wallraff. Só a total inversão de papéis, a adoção de uma nova “identidade” por semanas, até mesmo por meses, libera sua criatividade, possibilita-lhe escrever, e até mesmo sobreviver.

Mas, vamos à nossa segunda história.

Ela não se passa no mundo rude dos explorados e deprimidos, dos humilhados e injuriados como no caso de Günter Wallraff, mas sim no mundo da música, em uma atmosfera cheia de sons celestiais.

O pianista desta história é famoso porque suas interpretações de grande músico soam de forma singular, sempre nova e vivaz.

Elas fascinam, permitem que se participe de sua tensão e atuam de forma diferenciada e clara.
Como este pianista consegue esse efeito tão extraordinário sobre sua platéia ?.

Seus concertos são para ele mesmo um acontecimento único.

Ele se prepara a semana inteira, estuda toda a vida e obra dos compositores cujas peças ele quer tocar.

No dia da apresentação, ele dorme bastante de manhã, ficando bem descansado à tarde.

Em seguida, ele se torna outro: em cada nova peça que apresenta, ele se transfere, segundo suas próprias palavras, integralmente para o papel de seu compositor.

Ele crê, então, ser nesse momento Alessandro Scarlatti, Frédéric Chopin, Sergei Rachmaninov.

Nessa inversão interna de papel, ele experiencia imediatamente a música, deixando-a fluir parp fora de si.

Esse encontro interior preenche-o integralmente, comovendo-o.

Ao tocar, ele vivencia uma comoção, uma çatarse, que libera suas forças como se fossem as de um outro.

Essa criatividade espontânea proporciona uma forma totalmente nova à obra executada.

Por isso, nenhuma interpretação de uma peça se equipara a outra.

Cada idéia musical captura seu corpo, passa para seus dedos; cada timbre específico torna-se nitidamente audível, como se cada dedo efetuasse uma inversão de papéis.

E ele pôde recorrer a todas estas capacidades até a idade avançada.

Está claro que se trata de Vladimir Horowitz, que faleceu em 1989 aos 86 anos.

O que nos dizem estas histórias?

A identidade surge através da adoção de papéis.

Para que se torne identidade, não forçada, devo poder escolher papéis; não posso deixar que eles me dominem.

Disso são capazes tanto os compositores geniais como os seres humanos comuns.

Quando eu incorporo esses papéis, devo me transmutar neles, combiná-los com outros papéis para que eles resultem numa relação, como na colcha de retalhos, que primeiramente pode parecer inusitada e mesmo louca, mas que só pode enriquecer a mim e a meus parceiros de interpretação.

Mas esses papéis não podem permanecer na superficialidade; eu devo interpretá-los para mim mesmo, devo incorporá-los.

Em seguida, eles passam a fazer parte de meu repertório de papéis, que posso ativar a qualquer momento.

Mas essa flexibilidade de papéis me capacita também a compor conjuntos de papéis espontaneamente novos (a partir dos diversos papéis de que disponho e de segmentos deles), de modo que eu tenha sempre maiores possibilidades de atender às exigências externas que se manifestam em mim.

Mas nestas histórias, Wallraff não se encontrou apenas e tão somente na imaginação de outras pessoas, cujas sensações e pensamentos fluiam para ele, e Horowitz não apenas entrou em contato com o compositor Robert Schumann.

Eles também tiveram ligação com uma força que possibilitou essa transformação, essa metamorfose, essa transmutação no tempo.

Eles tiveram ligação com a criatividade propriamente dita para a qual, em nosso círculo cultural, a palavra “Deus” está reservada.

E com isso estamos, então, espontaneamente com Moreno.

Moreno – protagonista dos jogadores de papéis

“Foi no início de nosso século que um jovem tentou tornar-se Deus.

Foi em Viena, e o período de seu aparecimento foi entre 1908 e 1914″.

Com estas palavras Moreno começa a autobiografia que havia iniciado antes de sua morte em 1974.

“O extraordinário nisso”, escreve ele, “não é a história de como um homem torna-se Deus.

Muitos tentaram isso e fracassaram.

O extraordinário é o relato cuidadoso sobre as circunstâncias internas e externas que o protagonista principal publicou.

Isto é ainda mais extraordinário porque o relato descreve não apenas a transformação de um ser humano em Deus, mas também o inverso, a retransformação de Deus em um ser humano (…)

Por fim, é extraordinário porque o homem que participou dessa expedição cósmica era bem ‘normal’ e, ao contrário das suposições das teorias psicológicas correntes, retornou intacto, tornou-se produtivo e mais capaz de atender às exigências da vida do que antes”. (Moreno, 1989, pg.15).

Todas as publicações de Moreno devem ser concebidas como relatório dessa constante e imaginativa inversão de papéis entre ele e Deus, entre Deus e ele; não somente seus trabalhos anteriores, mas também suas obras científicas.

Moreno se via como um “jogador de papéis” que queria não apenas incorporar em si, através de constantes inversões internas de papéis, as capacidades de outros seres criativos.

Ele queria também participar do “Deus onipotente”, da força de sempre recriar o mundo.

A criação, para ele, não estava consumada.

O criador só pode concluí-la com a ajuda do ser humano, e nós só podemos dar-lhe forma através de uma força que não podemos produzir por nós mesmos, que podemos apenas descobrir e utilizar: a “força criadora de Deus”, a criatividade infinita.

Mas Moreno não se via como o único “jogador de papéis”, ele veia nisso uma possibilidade também para todo e qualquer ser humano.

Aquilo que ele próprio havia experimentado desde a infância, a constante inversão de papel com Deus, com seres humanos, incorporando em si as forças divinas, e com religiosos, filósofos, artistas, isto ele queria possibilitar a todos.

O lugar onde estas expedições podem ser experienciadas de forma intensa, aqui e agora, é o psicodrama.

Aqui cada um pode desempenhar todos os papéis na surrealidade do palco: pessoas de seus grupos de referência, pessoas falecidas de sua história de vida, formas imaginadas, seres de fantasia, figuras lendárias, e também animais, plantas, pedras.

Todos os componentes da criação podem ser criados novamente no palco, na medida em que ele os incorpore, represente-os, assuma seus papéis.

Ao se perguntar como eles querem ser representados, ele experimenta as perguntas que lhe são feitas por essas criaturas, suas expectativas de papel, devendo responder-lhes e assumir ‘responsabilidade’ por elas.

Assim ele é inserido no processo de criação como um todo, tornando-se “co-criador”.

Então, subitamente, mesmo aqueles que viveram até agora como impotentes podem desenvolver forças inimaginadas.

Eles sentem que isso também depende deles, que sua representação tem um valor no processo de criação, que podem participar ativamente desse processo.

Muitas dessas criações podem ser estranhas, inusitadas, bizarras, loucas.

Mas elas também têm seu lugar, seu significado.

Elas também são respostas às exigências da vida.

Elas também podem ser experienciadas como enriquecimento.

Essas experiências na representação são reais, tornaram-se verdadeiras e portanto são também eficazes para a vida cotidiana do outro lado do palco.

Elas encorajam o reconfigurar do cotidiano de acordo com as imagens e as cenas da surrealidade.

Assim o psicodrama é um locus nascendi, um local de novo nascimento, para uma outra vida mais satisfatória.

Como é que tudo isso se reflete na visão de Moreno?

Papel e identidade na teoria de Moreno

Moreno utilizou muitos conceitos de outros contextos para designar experiências específicas em seu trabalho.

Mas depois, à luz dessas mesmas experiências, ele os ampliou, com nova vida, e os tornou adequados às suas finalidades.

Assim, ele adotou o conceito de papel a partir do contexto do teatro (Moreno, 1962).

Aqui, o conceito tem a acepção de “pessoa imaginária”, que foi criada por um escritor e que está determinada pelo texto e pelas marcações de palco do autor.

Mas esse papel, no script, deve ser preenchido com vida, deve ser interpretado através do “dar forma”.

Suas partes físicas, psíquicas e sociais devem ser incorporadas na representação concreta.

Enquanto na teoria sociológica ou sócio-psicológica essa parte pté-definida (tendo a sociedade como autora) está em primeiro plano (por ex. Dahrendofr, 1965), Moreno acentua cada parte concretamente interpretada, cada incorporação individual de papéis, como possibilidades de ação.

E essa configuração de papel, essa interpretação, até a descoberta de um novo, até a criação do papel, traz à cena os papéis psicodramáticos e psicossomáticos reprimidos em nossa sociedade, que também não encontram expressão na teoria sociológica de papéis, em sua versão corrente.

Mas Moreno dá, ainda, um passo adiante.

Para ele, papel é “a cristalização final de todas as situações em um determinado âmbito de ação que o indivíduo vivenciou” (Moreno, em Petzhold & Mathias, 1987, pg. 277).

E o self, como núcleo individual de cada ser humano, compõe-se desses papéis.

Nessa concepção de papel está refletida a situação social, identificada por uma decomposição de modelos tradicionais e pela necessidade de corresponder a múltiplas exigências.

A identidade da pessoa, portanto, não mais surge simplesmente da adoção de modelos pré-definidos de papel, conforme o conceito clássico de identidade, mas através de uma nova combinação e uma nova configuração de papéis.

Isso corresponde exatamente à metáfora da colcha de retalhos proposta por Heiner Keupp.

Moreno observou também o caráter forçado de identidade do “eu” em nossa sociedade, ao escrever em seu “Discurso perante o juiz”, em 1925:

“A democracia… amaldiçoou a humanidade com uma benção assustadora.

É um presente de grego da democracia: o ‘eu’ (…)

Cada um carrega sua cruz: o ‘eu’…

E uma vez que a fome de possuir cresce com o distanciamento, a megalomania surge cada vez mais desenfreada quanto mais vazio for o invólucro (…)

Uma epidemia do ‘eu’ consome a sociedade.” (Moreno, 1925, pg. 9).

Esse egoísmo do ter, citando Erich Fromm (1983), só pode ser superado pelo próprio “eu”:

“O único recurso contra a epidemia é de novo o ‘eu’.

Não há fuga do eu para fora, somente para dentro.

Quem deseja fugir do labirinto, deve estar em seu final.

O ‘eu’, considerado no fim, conduz do labirinto para o centro. (Moreno, 1925)

Para superar a inclusão do self pela conservação do “eu”, o self deve expressar-se por si, deve trazer para fora seu interior, seus papéis privados devem ser apresentados publicamente.

As alterações conjuntas destes papéis alienados, por ocasião da representação, a liberação e a nova configuração das conservas de papel do eu, na catarse, podem ocasionar, então, uma reintegração do self.

A ferramenta para isso é o psicodrama.

Na medida em que o “eu” é interpretado até o fim, os papéis conservados são, por um lado, repetidos.

Mas, ao mesmo tempo, todos os participantes entram em contato com a criatividade através da representação espontânea.

O “eu”, vivenciado até o fim na representação, conduz, portanto, para fora do labirinto dos papéis internos alienados; ele conduz para o centro do qual vive, para dentro da força criadora.

Assim, a nova ordem da interiorização passa pela nova ordem da exteriorização, de modo que a primeira possa causar uma nova ordem da exteriorização.

Na visão de Moreno, o ser humano é constituído não ~ente através do mundo, e o mundo através do ser humano.

Existe ainda uma terceira força que atua aqui: o “divino”.

Assim, na representação criativa de papel do ser humano, o que podemos chamar de deus e mundo, espírito e matéria, está de tal forma interligado, que surge uma nova criação.

Quando essa ligação não funciona na representação de papel – ela não tem que funcionar, porque não pode ser forçada – são reproduzidos somente os invólucros.

O ser humano torna-se um jogador de papéis robotizado, como Yablonsky (1978 pg. 222) o designou.

Por isso, a identidade do homem não se esgota no entrelaçamento o mais criativo possível dos mais diversos segmentos de papel, como sugere Keupp.

Ela deve também estar sustentada por uma força que passa por ela e a ultrapassa.

E esse trabalho com a identidade não acontece automaticamente em nossas realizações de vida cotidianas.

Ele deve criar espaço para a imaginação, a ação e a cooperação, na medida em que seja possível a oscilação entre o interno e o externo.

Mas essa visão das coisas tem conseqüências para a auto-definição do papel e da identidade do psicodramatista moderno.

Conseqüências

Formação em psicodrama significa partir para uma expedição cósmica – como Moreno, na medida em que o interno é levado para fora e o externo para dentro – e, nessa viagem, abrir-se para o totalmente diferente que nos envolve e nos segura.

Só quando isso é vivenciado é que podemos transmitir o “experienciado”, podemos testemunhar, podemos merecidamente acompanhar outros em sua expedição.

Por isso também é que Moreno chama os psicodramatistas de “detentores da verdade”, pois eles “indagaram a verdade da alma através da ação“.

Eles experienciaram o que constitui o núcleo do cosmos, a alma do mundo.

Essa experiência (que se poderia chamar de mística) não pode ser forçada, nem mesmo pelo psicodrama.

Ela deve acontecer.

Mas para que ela ocorra, a pessoa deve preparar-se, deve aquecer-se, com auxílio de todas as técnicas, métodos e recursos.

Em princípio, essa experiência não pode ser formulada adequadamente em linguagem discursiva.

Por isso ela é praticamente inexeqüível por pessoas que não experienciaram essa ligação.

Ela aparece então, para muitos, como quimera.

Sómente como participante dessa expedição é que se pode alcançar uma identidade de psicodramatista autêntica e auto-consciente.

A formação deve conduzir ao caminho, deve permitir as primeiras experiências.

Mas a viagem propriamente dita nunca termina.

Nesse sentido, a identidade psicodramática está sempre inacabada, ela permanece em constante processo de desenvolvimento.

Os psicodramatistas podem, assim, testemunhar um conhecimento específico e proporcionar esse conhecimento a terceiros, se estes admitirem para si mesmos os ajustes psicodramáticos.

Nesse sentido, o psicodrama representa um âmbito específico para a aquisição de conhecimentos: pode, portanto, ser considerado como uma ciência.

Para obter esse conhecimento ou apenas complementá-lo, deve-se entretanto – como também em outras ciências -utilizar os métodos usuais dessa ciência (neste caso, os psicodramáticos).

Quem quiser examinar esse conhecimento com outros métodos fracassará, pois seus métodos não poderiam ser objetivamente adequados.

Isso não significa que por outras vias (que não as psicodramáticas) não poderiam ser obtidos conhecimentos semelhantes’ou mesmo iguais, pois existe apenas uma realidade e ela sempre pode ser vista por caminhos diferentes.

O psicodrama deve ser concebido, assim, como uma ciência através da qual se pode obter conhecimento, mas que tem, em princípio, um significado evidente para os próprios participantes.

Mas esse conhecimento quase não pode ser transmitido através da linguagem discursiva, mas sim em formas representativas, uma diferenciação que se atribui à filósofa Susanne Langer.

Hoje em dia é amplamente reconhecida, tanto na filosofia como na teoria da ciência, a limitação do discurso racional que, através das ciências físicas e naturais positivistas do século XIX, tornou-se o tipo dominante de argumentação.

Ao reconhecimento dramatizado e espontâneo, como o oferecido pelo psicodrama em suas imagens cênicas, no encontro direto, é atribuído novamente um grande significado (pelo menos como corretivo).

Nesse sentido, o pensamento de Moreno apresenta-se exatamente como um protótipo de ciência “pós-moderna”.

A partir dessa observação, ganha uma luminosidade totalmente inusitada e estimulante seu projeto de reunir ciência, religião e arte em uma organização específica.

Sua alternação entre uma metodologia positivista de medição e uma poética metafórica não deve ser mais simplesmente menosprezada como incapacidade banal, mas considerada como um processo apropriado, com meios diferentes, que não devem ser combinados para assim permitir que as verdades apareçam.

Só quando isso é entendido é que seus textos se tornam novamente abertos.

O que é reconhecido psicodramaticamente, emborca indizível deve ser expresso necessariamente por tentativas fragmentárias.

As rupturas, incompatibilidades e contradições, são justamente referências a um outro texto que nós mesmos devemos escrever, na medida em que relacionamos o texto de Moreno com nossas próprias experiências psicodramáticas.

Quando nos admitimos em nossas próprias experiências psicodramáticas com a visão de mundo de Moreno, podemos então desenvolver uma auto-consciência que pode ser plenamente irradiada para outros.

E assim não podemos deixar que a afirmação de nosso papel como psicodramatistas venha de fora, nem introjetar papéis que nos são oferecidos, como palhaço terapêutico ou comediante original.

Devemos assumir nosso papel e ganhar com isso nossa identidade: como terapeutas, isto é, servidores de uma ordem mundial definida por um “estar junto” solidário e na qual cada um possa representar adequadamente seus papéis, e que, para tanto, possa encontrar o melhor local possível.

Mas isso significa: o psicodrama é menos do que uma conserva que poderia permanecer separada do mundo.

Ao contrário.

Ele é areia na engrenagem, sal na massa de pão, catalisador de novos vínculos; é uma força que pode tornar vivas todas as relações.

Por isso, deve suportar as tensões do trabalho com as relações; entre o profissionalismo e a laicidade; entre as participações masculinas e femininas; deve suportar as tensões nas ciências, entre as diversas disciplinas e orientações teóricas; ele não pode resolvê-las apenas por um lado.

Se o psicodrama quisesse simplesmente tornar-se profissional, científico, ou seja, masculino, em nossa sociedade atual, renegaria estas tensões sociais e estabeleceria uma conserva que aniqüilaria a criatividade.

Sómente enquanto ele suporta essas tensões, absorve-as em si e tenta, no trabalho criativo, trazer para o diálogo, poderá ser fermento no processo atual de fermentação social.

O psicodramatista deve oscilar, portanto, entre a metodologia altamente profissional (como terapeuta e pesquisador) e o co-humanitarismo despretensioso (como participante de grupo).

Ele precisa oscilar entre os aspectos masculinos e femininos do trabalho com as relações, entre preocupação e análise, entre proximidade e distância, entre participação e observação fria.

E os psicodramatistas devem poder oscilar entre diferentes disciplinas e princípios científicos.

Devem tentar pensar e ver as coisas de forma interdisciplinar e pluralista.

É essa abertura que pode ajudar a observar por diversos ângulos os proce.ssos psicodramáticos e torná-los “compreensíveis” para os participantes e demais interessados nesse conhecimento.

Em seguida, pode-se produzir coerência através da referência conjunta ao que foi vivenciado e configurado coletivamente.

Sòmente diante desse segundo plano, então, é que pode-se falar de uma qualidade de ciência autônoma do psicodrama.

Na medida em que os psicodramatistas concebem sua própria identidade como uma colcha de retalhos que pode ser configurada criativamente através do trabalho psicodramático (como o fazem ou fizeram criaturas tais como Wallraf e Horowitz), poderão também contribuir para a formação da identidade de seus clientes, tão criativa como as colchas de retalhos.

É justamente através da abertura e da imperfeição do psicodrama, assim como Moreno o estruturou, que temos que mesclar hipóteses excepcionais no processo de reconfiguração social (tão boas – se não melhores -quanto as de alguns psicanalistas totalmente profissionalizados e socialmente vinculados).

A identidade psicodramática deve, portanto, ser vista como uma estrutura que se desenvolve constantemente, que absorve em si as tensões do mundo, mas que ao mesmo tempo as influencia a partir de seu interior, na direção de uma nova ordem solidária.

Contribuir para isso é, de acordo com meu ponto de vista, o papel mais importante que os psicodramatistas podem desempenhar.


O texto original deste artigo foi publicado na revista PSYCHODRAMA: ZEITSHRIFT FÜR THEORIE UND PRAXIS PSYCHODRAMA. SOZIOMETRIE UND ROLLENSPIEL, 4.’Jahrgang, Heft 2 – Dezember 1991 (p.255-272), com o título ROLLE UND IDENTITÁT VON PSYCHODRAMATIKERN UND PSYCHODRAMATIKERINNEN IN UNSERER ZEIT.

Tradução do original alemão: Carlos Augusto Veloso e revisão: Antonio Ferrara e Moysés Aguiar


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Endereço do autor: PD Dr. Ferdinand Buer, Alte Schanze 46, D(W)-4400 Münster


  1. Nota dos editores: O termo “psicodramatista” não existe no vocabulário da língua portuguesa; segundo Aurélio B. Holanda, o correto seria dizer “psicodramista”. Preferimos entretanto manter o termo não-vernacular em respeito ao seu uso corrente e até mesmo em função do próprio texto. ↩︎
  2. Nota dos revisores: Parece que o autor quer referir-se à pesquisa na rede sociométrica atual ou na história de vida da pessoa. ↩︎
  3. Mantivemos a tradução de Rollenwechsels como inversão de papéis embora, a rigor, o autor esteja descrevendo uma “tomada de papel” (sem inversão) ↩︎
  4. Aqui o autor utiliza a palavra “Rollenübernahme” = tomada de papel. ↩︎

Leituras 13 – O papel e a identidade do psicodrama moderno
Tiragem desta edição (janeiro de 1996): 1200 exemplares
Coordenação Geral: Moysés Aguiar / Antonio Ferrara
Uma reedição para o computador de Leituras da Companhia do Teatro Espontâneo.